Entrevista Kiko Loureiro
Kiko Loureiro, um dos maiores guitarristas do mundo, iniciou seus estudos na música ainda muito cedo. Aos 11 anos, já dedilhava o violão e mais tarde, ao adentrar o mundo do rock progressivo, do heavy metal, do jazz e do fusion, descobriu sua verdadeira vocação. Em 2015, Kiko passou a integrar o Megadeth, uma das maiores bandas de todos os tempos.
Confira nesta entrevista preciosas dicas do artista, sua opinião em relação ao mercado da música e os próximos shows e projetos.
Muitos estudantes e guitarristas têm você como ídolo e se espelham na sua trajetória de sucesso. Para quem está começando e, até mesmo aqueles que já têm mais tempo de estrada, quais dicas você pode dar para ajudá-los?
Tem tanta coisa para falar…eu até convido os músicos para assistirem ao meu canal no Youtube. Eu faço uma série que eu chamo de “Monólogos do Quarto de Hotel”, quando estou viajando dou alguns toques gerais e dicas importantes. Fiz também o “Passando Som”, dando dicas um pouco mais relacionadas à indústria da música, o chamado music business em geral, pois tenho um curso com o mesmo nome, que devo lançar no começo de novembro com novidades. Faço uma turma por ano, mas vai ter bastante coisa no canal do Youtube e no Facebook.
Como regra geral, o cara precisa se dedicar. Eu sinto às vezes uma falha, se fosse para achar um ponto crítico, que os músicos e artistas em geral precisam melhorar, que é difícil mesmo, pois eu passei por isso: acreditar na profissão e encarar como uma profissão, acreditar que você vai conquistar e que demora um tempo mesmo.
Muitas vezes eu vejo o cara dizendo que é difícil ser músico e que não está rolando, mas quando vai ver ele está fazendo outra coisa, ele ensaia duas horas por sábado e toca meia hora por dia. Na verdade, para ver acontecer, tem que encarar como um trabalho, se dedicar com afinco ou mais como se fosse estudar para passar nas provas ou num vestibular. São oito horas por dia focado no seu negócio, na sua música, em suas composições ou na sua escola de música, seja qual for o negócio que queira viver dentro da música. Precisa ter essa dedicação, e às vezes, por tratar como um hobby, acaba se tornando um hobby mesmo. Mas primeiro, começa acreditando que a profissão é possível.
No meu curso “Music Business” mostro que o mercado tem uma série de opções. A Expomusic, por exemplo, mostra esse lado do mercado de instrumentos musicais e da educação.
Quais tipos de desafios os músicos podem esperar?
Os desafios acredito que são da própria pessoa, pois falo por mim. É preciso entender que é uma profissão e que é possível entrar de verdade nela. Existem as profissões mais tradicionais ou os caminhos mais tradicionais, até mesmo fazer uma faculdade. Eu vivi isso, mas vivi nos anos 90. Acredito que hoje em dia a pessoa não tem motivo para ter esse medo, pois atualmente existem tantos caminhos claros e com a internet é possível fazer as coisas crescerem. E o mercado da música no Brasil está muito mais maduro, não só na parte de instrumentos musicais, mas de grandes e pequenos shows, de bandas nacionais e internacionais, que estão muito mais profissionais, da parte de direitos autorais, de música para filmes, existem vários caminhos possíveis. O mercado está muito mais profissionalizado, então tem vários lugares para a pessoa poder arriscar a carreira de músico e de artista.
Mas acredito que o maior desafio é a própria pessoa e as que estão em sua volta, a família, que às vezes não reconhece, acha que é loucura. Os outros desafios vão ser menores, como da macroeconomia brasileira que dificulta o entretenimento, de fazer um show e não receber, mas são coisas que são cíclicas. Mas mesmo diante da crise a gente vê que as coisas estão acontecendo. Por isso, é preciso acreditar que a carreira de músico é uma carreira incrível. O músico entrando ali para valer, com tudo, ele vai ter uma vida realizada, já que vai fazer o que gosta e trabalhar bastante, é um ciclo virtuoso isso aí.
Você que é um artista veterano na Expomusic. Considera que a feira é uma espécie de vitrine para os músicos e de que forma ela contribui para a formação profissional?
A Expomusic mostra esse lado do mercado de instrumentos musicais, da educação da música, de editorais, mas principalmente de instrumentos musicais, que você pode ser não só um importador, mas um especialista de produtos, que viaja pelo Brasil fazendo demonstrações e falando com os lojistas, um tipo de relações artísticas, lidar com o marketing da música e tocar também. Tem várias profissões dentro das importadoras e dos fabricantes, além da parte de vender e ter uma loja, mas ainda como músico, e por aí vai. Acho que a Expomusic mostra bastante isso.
Acredito que a Expomusic contribui muito para a formação profissional. Eu fui muito, praticamente em todas as edições. Com certeza é importante para o network, para você conhecer quem são os fabricantes, os importadores dos instrumentos e das músicas que está a fim de tocar. Além disso, terá oportunidade de conhecer outros músicos, poder se apresentar e conhecer as pessoas que estão no mercado. É fundamental fazer network com representantes, fabricantes, com lojistas, escolas de música, músicos, e músicos de outros estilos. Em poucos dias você encontra todo mundo ali. Eu sempre encontrei os meus amigos.
A feira é uma oportunidade também para tocar para um público grande, tem gente do Brasil inteiro que circula na feira, pessoas que você não conseguiria atingir tão fácil, então é uma possibilidade de mostrar o seu trabalho, quando se consegue tocar nos estandes. Aconselho todos os músicos que querem entrar na música a irem à Expomusic, sentir e respirar música lá dentro.
Como você avalia o mercado da música nos dias de hoje, especialmente, da guitarra? Continua em expansão?
É uma longa conversa, pois vou comparar com outros tempos. Mas eu vejo um pouco mais de forma internacional, já que viajo muito e participo das feiras internacionais. A gente vê novas marcas entrando, como todo mercado. Teve uma ida da internet muito forte nos últimos dez anos, do social media, dos vídeos, do marketing, então, quem não está se adaptando acaba ficando para trás, eu acho que é mais por aí. E as marcas pequenas que fazem bem o social media acabam conseguindo um nicho de mercado bom e conseguem sobreviver, o que antes era praticamente impossível.
As marcas mais especializadas conseguem ter um resultado legal, dá uma diversificada no mercado e o consumidor tem mais recurso para conhecer os produtos. A marca de importadores tem que ser bem clara no que vende, pois o consumidor está muito mais consciente, mais educado quando ele vai comprar. Isso muda o mercado. O consumidor está mais consciente do que ele quer e o que ele não quer, o que é bom ou não, informado sobre preço e onde comprar. Tudo isso variou bastante.
Quanto à expansão do mercado, tem análises e números, mas acredito que não expandiu o mercado de guitarra, mas isso não é positivo e nem negativo. Não vejo para esse lado. Acho que é uma coisa que está aí e tem que conviver com ela, pois a guitarra é um instrumento que não necessariamente é o instrumento da moda. Hoje você tem outros caminhos, o DJ, a música eletrônica, que estão na frente. Mas ao mesmo tempo, no Brasil, o violão é muito forte no Sertanejo. E por isso, as marcas de guitarra vão caminhando para o violão também para contrabalançar tudo isso.
Acho que tem vários caminhos e marcas e os fabricantes precisam se adaptar, por conta da mudança do consumidor, da moda da música, da música eletrônica. Hoje tudo está mais canalizado para o computador e o celular, não somente na parte do marketing, mas na hora de se criar música, está muito focado nos dispositivos que a gente tem.
Quais novidades os seus fãs podem esperar para o segundo semestre deste ano e para 2018?
Lanço o “Music Business” no começo de novembro, turnê do Megadeth, que vai passar por São Paulo em 31 de outubro e no Rio de Janeiro, dia 1º de novembro. Vamos tocar também no Chile e em Buenos Aires. Agora estou fazendo uma turnê nos Estados Unidos junto com a banda Scorpions. Tem também meu curso de guitarra que está superforte, “Guitar Hacks” (kikoloureiro/hacks) para ajudar o guitarrista a entender e estudar melhor o instrumento, e o “Guitar Evolution”, que faço assinatura de uma aula semanal – uma plataforma com muitas coisas legais. Vou ter também uma apresentação no México em dezembro e espero conseguir ir para o Brasil fazer alguns shows meus no começo do ano que vem.