Alunos de escola pública têm cursos gratuitos de música

O projeto municipal oferece aos 700 discentes 20 cursos, dentre eles de violão, baixo e bateria

Sobral. Aprender a tocar e a cantar de forma gratuita. Esta é uma realidade para os alunos da rede pública de ensino desta cidade, através de um projeto da Escola de Música de Sobral, iniciado em 1997. Hoje são 600 alunos oriundos principalmente destas unidades escolares que têm a oportunidade de aprender qualquer um dos mais de 20 cursos ofertados.

A unidade funciona em um casarão tombado no Centro da cidade. O local tem 12 salas de aulas que estão sempre ocupadas tanto de estudantes da rede pública quanto do ensino privado fotos: Jéssyca Rodrigues

De acordo com o diretor da Escola, o maestro José Brasil, que acompanha o projeto desde a implantação em seu atual endereço, em 2004, o espaço é uma oportunidade ímpar para todos aqueles que querem ter contato direto com o universo da música. “A Escola é uma instituição completamente mantida pela Prefeitura. As taxas de alunos de escola particular, que somam menos de 20% dos nossos estudantes, é revestida para pequenos reparos e manutenções”.

A Escola de Música funciona em um casarão tombado no Centro da cidade, cercado por outros instrumentos culturais como o Theatro São João, o Museu Dom José e a Casa da Cultura. O local tem 12 salas de aulas que estão sempre ocupadas.

“Antes de eu assumir, o projeto era quase itinerante, tendo funcionado no Theatro São João, Casa da Cultura, e até em uma casa próxima a Igreja da Sé. Com a desapropriação do imóvel em 2003, a Prefeitura resolveu implantar ali a Escola definitivamente. Nisso houve recursos do governo do Estado para a reforma e também da Petrobras para a aquisição de instrumentos, sendo montada a estrutura física da Escola”, diz Brasil.

Com a aquisição de instrumentos, foi possível aumentar o acervo para novas modalidades, como guitarra, baixo e bateria. Para ele, a Escola possuir seus próprios equipamentos é um diferencial. “Normalmente, nas escolas de música, os alunos precisam levar seus instrumentos, e nós temos um acervo respeitável, com quase 30 violões, dez teclados, por exemplo”. Os itens também são emprestados para outras atividades culturais, como o Festival de Música da Ibiapaba, que ocorre no período de férias da Escola de Música.

Origem

Na época, eram apenas quatro professores que moravam em Fortaleza e vinham para a cidade apenas uma vez na semana, o que atendia uma demanda de 80 alunos. Quando o maestro chegou no município, fixando residência, começou a ser estudada uma proposta de ampliação da Escola, abrindo então um concurso para novos professores.

“Eram turmas de violino, violão, violoncelo e contrabaixo, além de coral. Existia também a Banda de Música, que na época só se reunia quando era necessário, sem atividade regular”, explica Brasil.

Depois da seleção, foram contratados 15 instrutores e o quadro de alunos subiu de 80 para 600. “Todos os professores passaram a residir em Sobral e a lista de matrícula dá esse salto. Além disso, os atendimentos são superiores. Temos inúmeros alunos que escolhem mais de um instrumento”, destaca.

Além da técnica instrumental, a Escola de Música ensina também teoria musical e prática de grupos, como forma de incentivar os discentes a montar grupos com estilos musicais parecidos entre si.

Há também uma parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc), dentro do Projeto Sesc Partituras, no qual a Escola de Música participou do lançamento da iniciativa. “Temos marcada também outra apresentação, dessa vez para novembro, provavelmente dia 22, no Dia da Música”, confirma o Brasil.

Hoje, com fila de espera em época de matrículas, o maestro Brasil diz haver uma necessidade urgente de ampliação de atendimento. “Só para aprender violão, temos 200 alunos e três professores com horários completamente lotados. O projeto de ampliação está, atualmente, em discussão com a Prefeitura de Sobral”, enfatiza.

Além da ampliação, Brasil ressalta outra necessidade, a da renovação dos instrumentos. “Com dez anos de uso ininterruptos, estão começando a surgir os primeiros sinais do tempo, por isso já iniciamos as negociações para compra de novos itens”, ressalta o maestro.

A Escola atende ainda a alunos de 3 a 70 anos, com um projeto para o ensino de crianças antes da prática musical. “Elas começam a aprender teorias, exercícios de coordenação motora e outras atividades que desenvolvam sua intimidade com os instrumentos. Os primeiros alunos que saíram desse projeto apresentam uma facilidade muito maior na hora da técnica instrumental”, finaliza Brasil.

ENQUETE

Qual sua opinião sobre a Escola de Música?

“A oportunidade de estudar aqui é muito fantástica. Venho da cidade de Forquilha para Sobral só para praticar. Eu comecei há quatro anos meus estudos no violino, e hoje continuo como bolsista”

Gerlásio Silva
Bolsista do curso de violino

“Comecei aos 10 anos e sou estudante de escola pública. Acho o máximo poder aprender um instrumento de graça. Eu já tinha alguma familiaridade com o violão, por isso quis vir me aperfeiçoar aqui”

Guilherme Sousa Pereira
Aluno de violão

“A Escola de Música oferece uma chance para todos aprenderem e se integrarem no universo que a música representa, mesmo aqueles que normalmente não teriam condições de pagar aulas”

Claudemir da Silva
Aluno de baixo

Faculdade forma primeiros licenciados

Sobral. Com a primeira turma iniciada em 2011, a Faculdade de Música de Sobral possui aproximadamente 100 alunos e deve formar os primeiros licenciados nesta arte, em 2014. A unidade foi implantada na cidade após um manifesto dos alunos e professores da Escola de Música, em 2009, quando o então presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, esteve na cidade para inaugurar o Campus do Instituto Federal do Ceará.

A entrada de novos discentes no curso de educação musical ocorre através do Exame Nacional do Ensino Médio, e a UFC não realiza teste específico de aptidão

O curso de educação musical foi uma adição aos já ofertados pela Universidade Federal do Ceará (UFC/Sobral), no Campus Mucambinho. Visa formar o professor de música, em nível superior, com conhecimentos da pedagogia e linguagem musical. A entrada de novos estudantes ocorre através do Exame Nacional do Ensino Médio, e a UFC não realiza teste específico de aptidão, uma vez que o projeto Político Pedagógico do curso tem como objetivo formar o músico-professor, que será um agente multiplicador do conhecimento musical.

Para esta formação, aprender com as dificuldades em um ambiente heterogêneo é uma importante estratégia pedagógica. Esse foi um dos fatores que motivou o carioca Marco Toledo, atual coordenador do curso, a se inscrever no concurso para professor. A falta do teste de aptidão para ingressar na UFC possibilita que qualquer pessoa tenha acesso mesmo sem um contato prévio com a música.

“Isso difere da grande maioria dos cursos do Brasil, em que você tem que fazer um teste onde tem que tocar, fazer um teste de teoria musical e até de percepção musical, que é compreender as notas de ouvido e escrever para uma partitura”, destaca.

Ele chegou na cidade em 2011 e revela que foi surpreendido pelo cenário cultural de Sobral. “A cultura aqui é bem desenvolvida, e isso pode ser notado pela arquitetura preservada, muitos patrimônios nacionais, uma banda de música muito atuante, uma escola de música com cursos gratuitos para a comunidade”, destaca.

Parcerias

Hoje, o curso de música da UFC conta com a parceria da Prefeitura por meio de suas Secretarias, da Escola de Música e da Escola de Artes e Ofícios, além de mais de 20 projetos de extensão voltados às comunidades locais.

“Temos diversas parcerias com o município por meio desses dispositivos. No primeiro ano tivemos uma procura meio reduzida, mas no segundo ano isso mudou, porque iniciaram os cursos voltados para a comunidade, uma gama de mais de 20 cursos de extensão”, revela.

Toledo conta que começou a se envolver com a música ainda quando criança, a partir dos dez anos, quando morava com a mãe no interior do Estado de Minas Gerais.

“Com dezoito anos fui aprovado no concurso da Banda Sinfônica da Marinha, no Corpo de Fuzileiros Navais, que possibilitou voltar ao Rio de Janeiro, onde comecei a estudar música em outras instituições, como o Conservatório Lourenço Fernandes”, explica.

Entretanto, foi apenas depois de sua aprovação no vestibular da Faculdade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde fez o curso de licenciatura e prosseguiu com o mestrado em educação, que Toledo decidiu entrar definitivamente no âmbito do ensino da música.

“Esse foi um período muito profícuo quando pude tocar com nomes da música popular brasileira, como Jorge Benjor, Seu Jorge, Adriana Calcanhoto e o Rio Jazz Orquestra. Depois do mestrado decidi me dedicar mais a carreira acadêmica e me interessou ir fazer doutorado fora, na França, que foi concluído na Bahia, graças a uma parceria internacional”, finaliza.

Mais informações:

Escola de Música de Sobral
Av. Dom José, 1126
Telefone: (88) 3611.5484

Aberta na quarta-feira,
de 8 ao meio-dia,
e de 14 às 21 horas

JÉSSYCA RODRIGUES
COLABORADORA

Fonte: Diário do Nordeste