Instrumento artesanal é opção para amantes de música em Uberlândia
Produto é alternativa para músicos canhotos e mercado amador da cidade.
Preços das peças variam de acordo com especificações dos clientes.
O mercado musical é conhecido pela sua heterogeneidade de estilos e comportamentos. Vários produtos englobam esse negócio, que é apreciado por pessoas de todas as idades. Nesse cenário, ser baixo, alto, destro ou canhoto não deveria implicar em dificuldades para aprender sobre música, mas nem sempre a oferta de produtos atende a todos os públicos. Por isso, alguns profissionais em Uberlândia oferecem uma alternativa para aqueles que não encontram o material ideal nas lojas da cidade: instrumentos artesanais personalizados. O trabalho dos luthiers – profissionais especializados na construção e reparo de instrumentos – é uma saída para os amantes da música na cidade.
Lucas Lima, de 23 anos, é luthier e trabalha no mercado há sete anos. O jovem, que fez curso técnico de guitarra e violão e já teve clientes de cidades como Ituiutaba, Santa Juliana, Uberaba e Goiânia, explica como funciona o processo de montagem de uma peça. “Primeiro confiro com o cliente quanto ele está disposto a pagar pelo produto. Feito isso, conversamos para saber que tipo de instrumento ele quer e qual o modelo de desenho. Depois partimos para os cortes e a montagem do produto. Nesse processo, podemos escolher a parte elétrica, a madeira, as peças”, explica.
O profissional conta que um instrumento demora, em média, 90 dias para ficar pronto, com todo o acabamento e regulagem. “Claro que esse período varia. Teve um contrabaixo, por exemplo, que demorei 120 dias para produzi-lo”. Já sobre o preço das peças, o profissional explica que depende dos materiais escolhidos. “Uma guitarra simples, com materiais nacionais, mais a captação, tarraxas, madeira e acessórios, custa em média de R$ 2.700 a R$ 3.200. Mas também há aquelas peças especiais, como um contrabaixo que fiz e totalizou R$ 7.500”, conta.
Além da construção do instrumento, um luthier também realiza serviços de regulagem, colagem, pintura, polimento e adaptação de instrumentos, como troca de cordas para quem é canhoto. “Já fiz reparação de guitarra, violão, viola caipira, banjo, cavaquinho, viola clássica e até violoncelo. Ao contrário do que muitos pensam, atendo vários tipos de clientes que não são músicos profissionais, como canhotos, alunos, religiosos que participam de corais de igreja, amadores e até crianças”, afirma Lucas.
O preço pode ser um empecilho para a prosperidade do mercado, mas Lucas acredita na atividade. “O mercado de Uberlândia é diversificado e diferente de trabalhar. Existem muitas lojas de instrumentos musicais, com vários preços e custo-benefício. Mas sempre existirá aquele que tem como objeto de desejo um instrumento estilizado e nas medidas exatas para ele”, diz Lucas.
Exemplo disso é o professor de guitarra e violão Vitor Castro. Ele já encomendou duas guitarras personalizadas para tocar em apresentações de grupos musicais e diz que já gastou mais de R$ 5 mil nos dois instrumentos. “Muitas pessoas dão mais importância à marca do produto do que à qualidade”, comenta.
Vitor acredita que adquirir um instrumento personalizado é uma forma de se aproximar do próprio trabalho e habilidades. “Quando você encomenda um instrumento, você trabalha com o que realmente precisa. É uma forma de customizar para aquilo que você toca. Se sua mão é grande, por exemplo, você pode escolher um braço que fique melhor para tocar”, conta.
Ainda segundo ele, conversar com o profissional auxilia nas ideias. “É interessante conversar com o profissional, pois ele entende a regulagem do instrumento, aponta um possível defeito, dá ideias de como escolher o modelo e construir o instrumento da melhor forma”, diz.
Para Lucas Lima, independente do serviço, um bom profissional deve cativar o cliente. “Por ano produzo, em média, uns 10 instrumentos. São peças que exigem cuidado e tempo. Não adianta ter só o conhecimento, especialização e atualização com o mercado, mas também é preciso fazer um bom serviço. Uma parte disso é cativar o cliente, mostrar o seu trabalho e ter um bom retorno”, finaliza.
João Antônio é sócio proprietário de uma loja de instrumentos em Uberlândia há quase 30 anos. Ele diz que a procura por instrumentos personalizados já teve sua época de auge, mas por conta da concorrência, a procura diminuiu bastante. “Atualmente recebemos procuras esporádicas para construção de instrumentos, muito por conta do aumento de produtos importados chineses, que são mais baratos”, afirma.
Segundo João, é difícil manter um negócio apenas de instrumentos artesanais. “Não é que o mercado se esqueça, por exemplo, de pessoas canhotas ou com outras particularidades, mas é difícil manter um comércio exclusivamente de instrumentos artesanais em função da procura. Não é lucrativo. Muitos desistem após fazer o orçamento e perceber que o custo é alto para produzir uma peça do zero. Por isso, muitos migram para os produtos importados baratos”, comenta.
Fonte: G1 Triângulo Mineiro