Gala da música popular
Camila Pitanga, Lenine, Arlindo Cruz, Zélia Duncan e João Bosco cantam com Maria Bethânia em Belo Horizonte
Maria Bethânia anda rodeada de mimos e grandes homenagens por todos os lados. Ao completar 50 anos de carreira, ela segue à vontade com a turnê “Abraçar e Agradecer”, depois de ter sido agraciada pelo enredo carnavalesco deste ano da Mangueira e, mais recentemente, assumindo o protagonismo do maior prêmio musical do país. Seguindo o modelo dos últimos anos, o 26º Prêmio da Música Brasileira pega a estrada e desembarca em Belo Horizonte para o segundo show da turnê, neste domingo, no Chevrolet Hall. No palco, Lenine, Zélia Duncan, Arlindo Cruz, João Bosco e a estreante Camila Pitanga estarão lado a lado com a Abelha Rainha, reunindo um apanhado de algumas das canções mais importantes da MPB.
Depois de estrear em Porto Alegre, a turnê passa pela capital mineira antes de seguir para Brasília, no dia 26, e Olinda, em 4 de novembro. Em terras mineiras, o único desfalque do time oficial de músicos desta edição é Chico César, que não pôde vir por choque de agenda – assim como Lenine irá desfalcar as duas cidades restantes pelo mesmo motivo.
Desde que o formato de mini-turnê foi incorporado ao calendário do Prêmio da Música Brasileira, em 2011, esta é a primeira vez que uma atriz assume o posto de intérprete ao lado dos músicos que excursionaram em outras edições da celebração – o que faz todo o sentido para a trajetória cênica de Maria Bethânia. Por isso, aos 38 anos, Camila Pitanga admite nervosismo para a função, mesmo com a estima recíproca que sua família tem com o clã Veloso.
“Eu sou fiel amante da família Veloso desde pequenininha. Meu pai (o ator Antonio Pitanga) e Caetano se conheceram na Bahia. Quando recebi o convite do show, quase caí para trás. Mas tudo tem sido o maior axé. No domingo, meu olho encheu d’água no ensaio, enquanto cantávamos uma música de Gonzaguinha. O grande barato é que tudo o que tenho cantado, também estou sentindo. Parece parte da minha vida, parece que estou em casa”, afirma Camila, que canta “Âmbar” (Adriana Calcanhotto), “Lama” (Aylce Chaves e Paulo Marques) e “Gema” (Caetano Veloso), além de recitar um texto do diretor Fauzi Arap.
Fazer de um espetáculo musical quase uma extensão de casa é, aliás, a proposta de José Maurício Machline, que assina o roteiro e a direção artística do show. Foi ele quem passeou por toda a discografia de Maria Bethânia – composta por 52 álbuns, incluindo os registros ao vivo e os duetos –, garimpando canções para o perfil de cada um dos convidados, também apontados por ele. “Foi um trabalho de reconhecer as fases da Bethânia, incluindo a importância dela no samba, na canção, na música de matriz africana, enfim, e colocar gente que tem tudo a ver com cada um desses recortes para percorrer os lugares que ela cantou. Essa é a mágica desses encontros”, diz Machline.
TEMÁTICOS. Nesse sentido, enquanto Maria Bethânia solta a voz intacta para cantar algumas das canções mais fortes da carreira, como “Carcará” (João do Vale) e “O Quereres” (Caetano Veloso), os convidados pisam em terrenos conhecidos para dar voz a canções eternizadas pelo timbre da baiana – sendo todos os arranjos concebidos pelo criterioso Cristóvão Bastos.
Enquanto Zélia Duncan, que sobe ao palco com figurino exclusivo de Ronaldo Fraga, dá vida à dramaticidade da cantora baiana em canções pesadas como “Rosa dos Ventos” e “Vida”, ambas de Chico Buarque, o mineiro João Bosco, homenageado em 2012 pelo Prêmio da Música Brasileira, flutua por um violão baiano, dentro do seu modo autodidata de tocar. No palco, ele justifica o apelido de “sereia” que deu a Maria Bethânia, ao escolher para cantar “Morena do Mar”, de Dorival Caymmi. “Sem dúvida, as misturas têm sido o mais emocionante neste show. É um retalho do Brasil inteiro. Eu fui pela praia, o Lenine pelo sertão, a Camila pelo amor. Todos caminhos de Bethânia”, diz o músico.
Em outros caminhos, o pernambucano Lenine envereda pelo agreste, indo de “Lamento Sertanejo” (Dominguinhos e Gilberto Gil) até seu repertório autoral, que dá voz ao Nordeste esquecido, como em “Nem o Sol, Nem a Lua, Nem Eu”.
Mas, entre todas as participações, a do sambista Arlindo Cruz tem chamado mais a atenção pela forma despojada com que ele revisita clássicos como “Reconvexo” (Caetano Veloso) e “Apesar de Você” (Chico Buarque), em cadência de samba. “A Bethânia certamente marcou nosso modo de querer fazer samba. Simplesmente porque ela cantou os maiores, esteve e está com os maiores, trazendo elegância ao samba, sem deixar de ser fundo de quintal, claro. Eu a resumiria assim”, brinca Arlindo.
Agenda
O QUÊ. Turnê 26º Prêmio da Música Brasileira
ONDE. Chevrolet Hall (avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi)
QUANDO. Domingo, dia 15, às 20h
QUANTO. Os ingressos variam de R$ 75 (arquibancada, meia-entrada) até R$ 250 (pista premium, inteira)
Fonte: O Tempo – Magazine