Mensagem de Fernando Pessoa levou 27 anos para virar música
Estrelas da música brasileira e portuguesa interpretam as canções
O cineasta e músico André Luiz Oliveira
Foto: Divulgação
Mensagem, livro de poemas de Fernando Pessoa, completou 80 anos em novembro de 2014 como uma das obras mais celebradas da língua portuguesa. Poucos, no entanto, a celebraram quanto o cineasta e músico baiano André Luiz Oliveira. Ele terminou de musicar, na íntegra, o livro, em 2013, uma empreitada que se estendeu por 27 anos. Mas não musicou apenas para deleite próprio. Os 44 poemas tornados canções foram gravados por grandes nomes da música brasileira e portuguesa, e lançados em disco e vídeo.
O primeiro deles, em 1986, pela gravadora Eldorado, com participações de, entre outros, Caetano Veloso, Elba Ramalho, Ney Matogrosso, Zé Ramalho, Gilberto Gil, Cida Moreira, Elizeth Cardoso, a portuguesa Glória de Lurdes, e o autor das melodias, que canta em duas faixas. Duas décadas depois, quando livro completava 70 anos, André Luiz Oliveira lançou o segundo volume. Desta vez um álbum duplo, CD e DVD, aberto por Milton Nascimento, e fechado pelo português Mário Lúcio. Entre um e outro, cantam alguns que estiveram no primeiro volume: Gilberto Gil ou Cida Moreira, com outros que na época nem cantavam ainda profissionalmente: Edson Cordeiro, Zeca Baleiro ou Daniela Mercury.
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=CN3hNysWXnc
No final do ano passado, veio o terceiro volume, também álbum duplo, CD e DVD. Mais uma vez, é amplo o time de intérpretes, que vai de Caetano Veloso à maranhense Criolina (duo formado por Alê e Luciana Simões), mais Renato Teixeira, Fagner e Zeca Baleiro. Projeto reforçado por mais nomes da música portuguesa: Carlos do Carmo, Dulce Pontes, Antonio Zambujo. As gravações realizaram-se entre o Rio de Janeiro e Lisboa. No final de 2015, todos os CDs DVDs chegaram às lojas, pela Fidélio Produções e Warner Music, em embalagem de luxo, acondicionados numa caixa de madeira trabalhada, trazendo como bônus um exemplar do livro de Fernando Pessoa.
André Luiz não musicou os poemas em ordem cronológica: “As músicas chegavam a mim no tempo próprio delas, sem que eu tivesse qualquer possibilidade de regular a graça de recebêlas”, conta ele. No entanto, ao publicar a obra completa, preocupouse com a cronologia. Por não estar na ordem do livro a mensagem de Fernando Pessoa seria adulterada no seu significado essencial?: “Por um instante cheguei a pensar em editar as cançõespoema na ordem do livro publicado. Entretanto, essa perturbação dissipou-se quando descobri que Pessoa não havia escrito os poemas de Mensagem na ordem em que os publicou, e que também havia passado um longo período de vida, 22 anos, escrevendo-os. Diante disso, pude observar que cada poema musicado tinha e tem vida própria, e uma atemporalidade que dispensa qualquer tipo de cronologia, sendo a sua ordem de feitura e publicação designadas por providências que vão além dos desejos pessoais”.
A obra é comentada pelo autor, no encarte do 1º volume: “Mensagem de Fernando Pessoa traduz, em 11/01/2016 JC Premium http://jconlinedigital.ne10.uol.com.br/web/ 2/2 linguagem épica e metafórica, uma aspiração antiga do ser humano: o sentimento mais ou menos obscuro e presente de que existe um mundo interior a ser descoberto, à semelhança dos descobrimentos portugueses”. Mensagem, único livro publicado em vida por Fernando Pessoa, contém alguns dos poemas mais conhecidos da língua portuguesa, com versos citados a três por quatro, a exemplo de “Ô mar salgado, quanto do teu sal, são lágrimas de Portugal!” (Mar Português). E, ainda, os versos iniciais de O Infante, que ganharam vida própria, são atribuídos até a repentistas, e que, não raro, se encontra em parachoque de caminhão: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” (cantado no primeiro CD por Elba Ramalho).
(leia matéria na íntegra na edição impressa do Jornal do Commercio)