Aymoréco de Chay Suede dá rasante em álbum que dilui a mistura de EP
(Crédito da foto: reprodução da capa do álbum Aymoréco)
Quando Chuva de likes (Chay Suede e João Vitor Silva) caiu na web, em single lançado em 12 de agosto, deixou boa impressão e, ao mesmo tempo, a certeza de que o Aymoréco desta gravação já era diferente do Aymoréco que debutou no mercado fonográfico em dezembro de 2015 com EP de tons amazônicos. Primeiro single do álbum Aymoréco (Universal Music), disponível nas plataformas digitais desde 26 de agosto, Chuva de likes caiu no suingue tropical do Norte do Brasil com o clima das trilhas sonoras dos filmes de bang-bang à moda italiana – mistura que já tinha pautado parte do EP – e com farta dose adicional de pop.
No álbum, essa alta dosagem pop dilui demais a mistura inicialmente encorpada do Aymoréco, projeto cuja formação atual une o ator, cantor e compositor capixaba Chay Suede ao produtor e multi-instrumentista carioca Diogo Strausz. Aymoréco, o álbum, dá rasante por repertório inteiramente autoral – composto por Chay a sós ou com parceiros eventuais – com a impressão de que foi produzido (por Mario Caldato Jr. com Strausz) para seduzir as fãs conquistadas por Suede na novelinha juvenil Rebelde (2011 / 2012) e nas tramas mais adultas da TV Globo.
Melodiosas e melancólicas canções apaixonadas como Dói demais (Chay Suede) e Vem que tem (Chay Suede) até poderiam figurar no álbum solo de tom adolescente lançado por Suede em 2013 – antes do estouro como ator ao interpretar o protagonista jovem da primeira fase da novela Império (TV Globo, 2014) – e são os prováveis hits do disco. É claro que Caldato e Strausz enquadram tais canções em embalagem mais pop contemporânea. Mas a moldura instrumental – já em si mais fluida do que a do bom EP do ano passado – jamais consegue disfarçar a fragilidade do cancioneiro autoral de Chay. Nem o baticum de Leo Costa impedeRapadura (Chay Suede) de versar mole sobre amor colegial. Dona Lucinha (Chay Suede) – tributo à ativista social Lucinha Araújo, mãe do cantor Cazuza (1958 – 1990) – chega a soar pueril nas boas intenções.
Do ponto de vista instrumental, o suingue sintetizado por Strausz na gravação de Antoninho(Chay Suede, Roobertchay Domingues e Rutimar Domingues) merece menção honrosa – assim como o canto meio falado de Nossas avenidas homenageiam assassinos (Chay Suede), tema cuja letra densa e politizada incorpora versos indianistas de I-Juca-Pirama (1851), poema do romântico maranhense Gonçalves Dias (1823 – 1864).
Se seguido pelo álbum, esse caminho mais denso daria mais peso – literal e metaforicamente – ao som do Aymoréco. Mas canções como Estrela universal (Chay Suede) – adornada com lúdico coro masculino – e A vez do avesso (Chay Suede) sinalizam que o Aymoréco optou por seguir a rota mais fácil, em que pesem as programações e as guitarras de Strausz, bem como a presença de músicos como o baterista Stephane San Juan em músicas como Expresso Aurora (Chay Suede).
Por isso mesmo, o voo do Aymoréco pode ser mais curto do que imaginam Chay Suede e Diogo Strausz, acabando tão logo Chuva de likes passe com a boa impressão desfeita pelo álbum. A menos que as melódicas canções de amor impeçam a aterrisagem… (Cotação: * *)
Fonte: G1 Globo