Brasil não está entre emergentes mais vulneráveis, diz Guido Mantega
Ministro respondeu a críticas de relatório do BC dos Estados Unidos. Segundo ele, Brasil tem reservas, dívida externa baixa e atrai investimentos.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta terça-feira (18) que o Brasil não está entre as economias emergentes mais vulneráveis. A avaliação é uma resposta ao Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve, ou Fed) – que divulgou relatório de política monetária na semana passada em que afirma que o país está entre os mais afetados pela redução dos estímulos nos EUA, junto com a Índia, a Indonésia, a África do Sul e a Turquia.
“Isso é um equívoco”, disse Mantega, durante o 9º balanço da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em Brasília. “O Brasil é um dos países que tem mais reservas internacionais. Em momento de volatilidade, o risco para alguns países é a falta de crédito e de recursos. Quem tem mais reservas são os que estão melhor posicionados. Temos a quinta maior reserva do mundo, com US$ 376 bilhões”, declarou.
Dívida e déficit externos O ministro da Fazenda também disse que a dívida externa de curto prazo do país – aquela que tem vencimento programado para até um ano – é pequena. “Nossa dívida externa é de US$ 330 bilhões, menor que nossas reservas. A dívida externa de cruto prazo é menor ainda: cerca de 7% de toda a nossa dívida. As necessidades [de financiamento externo] de curto prazo são pequenas. Se tivéssemos de tomar recursos no mercado internacional, não teríamos dificuldades porque a exigência é pequena”, acrescentou.
Guido Mantega seguiu em sua análise dizendo que a economia brasileira, apesar de o déficit em transações correntes ter avançado para 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, ainda possui resultado negativo menor do que outros países e com tendência de queda no futuro por conta da maior produção e exportação de petróleo previstos – além de continuar atraindo investimentos estrangeiros diretos.
“Em atração de investimentos estrangeiros fomos o terceiro, quarto ou quinto país que mais recebeu recursos nos últimos anos. Tem um fluxo forte de entrada e isso vai continuar. Concentramos mais de 4% de todo investimento estrangeiro direto [do mundo]. Estamos bem nessa foto”, afirmou durante o balanço do PAC.
Variação do dólar Segundo Mantega, o dólar se “move mais rapidamente” no Brasil do que em outros mercados emergentes pelo fato de a economia brasileira ser mais “líquida” (mais fácil de obter recursos) e, também, por possuir um mercado futuro de câmbio (derivativos). Ele observou que o dólar tem registrado uma estabilidade maior nas últimas semanas.
“Nos últimos seis meses, o Brasil foi um dos países que teve até valorização [queda do dólar]. O real se valorizou [subiu, e o dólar caiu em igual proporção] 0,75%. Está mais ou menos na média dos países. Não podemos dizer que é um país que está mais frágil do ponto de vista do câmbio”, declarou ele.
De acordo com o ministro, é uma virtude o Brasil ter mercado futuro de dólar, que contribui para movimentos mais rápidos na cotação da moeda brasileira. “É um dos poucos emergentes que têm mercado futuro, de derivativos. As transações se fazem mais no mercado futuro do que no mercado à vista. Ao invés de sair dólares, o que você tem é apostas e contra-apostas que acontecem só no mercado futuro”, disse.
Inflação e contas públicas Outro “atributo” importante da economia brasileira, ainda de acordo com o ministro Mantega, é a “inflação sob controle” e o cumprimento da meta inflacionária por dez anos seguidos – apesar de a inflação estar oscilando ao redor de 6% (próxima do teto de 6,5% do sistema brasileiro) há quatro anos seguidos.
“Não ultrapassamos os limites das metas. Janeiro começou desacelerando frente a dezembro. talvez anunciando um ano mais tranquilo em termos de inflação. A alimentação e bebidas está crescendo menos. Em 12 meses, estamos com tendência mais benigna do ponto de vista de inflação de alimentos. O ano passado foi mais forte. A inflação não só está sob controle, mas desacelerando, criando cenário adequado para aceleração da economia”, afirmou ele.
O ministro acrescentou ainda que a política fiscal (relativa às contas públicas, que vem sendo criticada por economistas do país e publicações estrangeiras) tem sido “sólida mesmo em anos difíceis de crise”. Em 2013, o governo atingiu sua parte da meta, mas falhou em entregar o resultado de todo o setor público – mesmo com receitas extraordinárias. Com isso, as despesas bateram recorde histórico, pressionando a inflação.
“Em relação aos Brics [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], o Brasil é um dos que mais fazem primários [economia para pagar juros da dívida pública]. Cuidamos disso e vamos continuar nessa trajetória de solidez. Com o resultado primário do ano passado, de 1,9% do PIB em 2013, reduzimos a dívida bruta e a dívida líquida em relação ao ano anterior. Isso mostra que estamos no caminho correto para manter a solidez das contas públicas e vamos continuar seguindo essa trajetória”, declarou ele.
Em todo o ano passado, o déficit brasileiro pelo conceito “nominal”, que inclui todas as despesas no cálculo, inclusive aquelas relacionadas com os juros da dívida pública, possibilitando uma comparação internacional, somou 3,28% do PIB – o maior desde 2006 (3,63% do PIB). A expectativa dos economistas é de piora deste resultado em 2014, ano eleitoral.
Fonte:G1