Em uma época em que pouco se falava de empoderamento e feminismo, Dona Ivone Lara representou a luta de uma mulher para ser reconhecida no meio profissional. No caso dela, o samba e as escolas tradicionais do Rio de Janeiro.

Morta na noite desta segunda-feira (16) aos 97 anos, é considerada a primeira mulher a criar composições nas escolas de samba — feito que a fez merecer o apelido de “Primeira-dama do Samba”. Ligada à Império Serrano desde que a escola se chamava Prazer da Serrinha, abriu caminho entre grandes personalidades, a maioria homens.

— Ela foi parceira e conseguiu fazer nome em um meio de grandes nomes, como Silas de Oliveira. Ela “ombreou” com ele — conta o jornalista Cláudio Brito, apresentador e comentarista da Rádio Gaúcha.

Sua contribuição começou cedo, aos 12 anos, quando fez Tiê. Nascida em um lar artístico — o pai tocava violão de sete cordas e a mãe era pastora —, mostrou também seu lado social. Formou-se assistente social e enfermeira, chegando a trabalhar com outra mulher que foi referência em sua área, a psiquiatra Nise da Silveira.

Destacar-se na Império Serrano, frisa Brito, foi algo que ela gostava de lembrar como uma conquista. Em 2012, virou tema do samba-enredo da agremiação.

— Ela dizia: “Não foi fácil. Eu não queria ser apenas pastora (mulheres que cantam nas escolas de samba), queria me impor como compositora” — relembra Brito.

Dona Ivone Lara teve composições cantadas por Caetano Veloso, Beth Carvalho e Gilberto Gil. Parte de seu legado ainda é desconhecido. Ao morrer, deixou cerca de 40 composições ainda inéditas, de acordo com o jornal carioca Extra.

Veja, abaixo, cinco músicas recomendadas por Cláudio Brito que alcançaram sucesso.

Tiê

— Ela fez essa música aos 12 anos, em homenagem a um pássaro. Cantou em todos os seus shows.

Cinco Bailes da História do Rio

— É o primeiro samba-enredo de Dona Ivone Lara. Conta a história do Rio a partir dos bailes.

Sonho Meu

— O grande sucesso. Talvez o mais marcante.