Como computadores aprendem a compor músicas
Pesquisadores do Google querem ensinar música e artes para computadores. A primeira canção já foi lançada
Em 2016, pela primeira vez, a humanidade teve acesso a uma canção composta por um computador. A faixa, de 1 minuto e 20 segundos, foi criada por uma rede neural de máquinas providas de inteligência artificial programadas pelo Google.
A composição é fruto do projeto batizado de Magenta, lançado em junho. De acordo com o Google, o objetivo é programar algoritmos capazes de aprender a fazer arte e música por meio de redes neurais artificiais, máquinas conectadas que são programadas para imitar a maneira como o cérebro resolve problemas.
“A criação de máquinas que são capazes de aprender já é usada extensivamente para entender conteúdo, como em reconhecimento de voz ou traduções. Com o Magenta, queremos explorar o outro lado – desenvolver algoritmos que possam aprender como gerar arte e música, potencialmente criando conteúdo artístico convincente por si só.” – Google
Máquinas também precisam de inspiração
Arte e música são criações subjetivas. Embora possam seguir padrões e lógica – no caso da música, inclusive matemática – composições e criações artísticas não seguem necessariamente uma fórmula que um computador poderia simplesmente reproduzir.
Por isso, o jeito mais próximo de replicar a experiência em um algoritmo é alimentando-o com a maior quantidade possível de criações artísticas humanas para que ele possa identificar padrões naquilo que é subjetivo e criar a partir deles.
No caso do Magenta, isso é feito usando arquivos MIDI. Você vai lembrar dos MIDI como aqueles toques monofônicos dos celulares de antigamente. Um arquivo MIDI é uma representação simbólica de uma música ou melodia, e a informação contida dele não contém áudio, mas instruções sobre quais notas tocar, por quanto tempo e em qual sequência.
É como um “esqueleto” da música, ou sua forma digital mais rudimentar. Mas os arquivos carregam, além das notas musicais, informações sobre velocidade, graves e agudos, volume, vibratos, intervalos e o tempo do ritmo.
O MIDI é ideal para o projeto porque é um arquivo pequeno, disponível na internet em grande quantidade e que não é protegido por direitos autorais. O computador é “alimentado” com milhões desses arquivos, os avalia e identifica padrões – quais notas vêm mais frequentemente antes e depois de outras, onde geralmente estão os graves e os agudos, onde costumam estar as pausas.
Com base nisso, o computador é capaz de criar algo novo. Como um ser humano, ele tem como fonte referências e influências daquilo que já “escutou”. Não por acaso, a primeira composição da rede neural artificial programada pelo Google tem claras influências daquilo que ela consumiu: MIDI.
A lógica da criatividade artificial de músicas é a mesma para redes neurais artificiais capazes de reconhecer imagens. Outro projeto do Google, DeepDream,foi retroalimentado com os padrões que reconhecia e criou imagens psicodélicas como resultado.
A segunda fase do projeto Magenta, inaugurada em agosto, convida compositores, programadores e músicos para participar. A ideia é disponibilizar gratuitamente um programa que consiga, por exemplo, criar uma base melódica para um artista quando ele toca um instrumento – ou o contrário.
Composições envolvendo vários instrumentos, elementos vocais sofisticados e mais experimentalismo são, ainda, um desafio muito grande para essas máquinas – justamente porque a complexidade e a subjetividade aumentam quando esses elementos se diversificam.
Um dos pesquisadores do projeto, Douglas Eck, disse que a mira do Magenta é a criação de algoritmos que possam produzir peças musicais que “arrepiem”, mas que é provável que a criação artística continue envolvendo humanos por muito tempo. Ainda é muito difícil programar computadores para que sejam capazes de criar peças convincentes de maneira totalmente independente.
Fonte: Nexo Jornal