Em fase ‘de boa’, Supla diz que canta para ter ‘orgulho de si mesmo’
Cantor de 51 anos toca com Doctor Pheabes no Rock in Rio em show ‘mais relax’. Ele fala ao G1 sobre ‘gratidão’ e novo disco: ‘Sou muito agradecido por estar com a minha idade, vivendo do que amo’.
Embora seja amado pelos memes, Supla não é um cara das redes sociais. Quase tudo que publica é relacionado ao trabalho. Se fosse, porém, suas postagens mais recentes estariam cheias de #gratidão.
O cantor de 51 anos, um ícone do rock rebelde dos anos 80, mostrou muitas vezes em uma entrevista por telefone ao G1 que está em uma fase zen – “de boa”, como ele costuma repetir. “Sou muito agradecido por estar com a minha idade, vivendo do que amo, por poder estar tocando na América e tocar no Rock in Rio daqui a pouco”, reflete.
Em meio a uma série de apresentações nos Estados Unidos, ele se prepara para subir ao palco Sunset do festival no Rio com a banda Doctor Pheabes, em 24 de setembro. Até a participação na festa será “mais relax” dessa vez.
“Em 2015 toquei com meu irmão [João Suplicy, com quem forma a Brothers of Brazil] e chamamos o cara do Sex Pistols [o inglês Glen Matlock, que foi baixista da banda punk]. Esse ano não vai ter esse peso, essa coisa de fazer cerimônia para o convidado. É bom dar um alívio”, comemora o cantor, um veterano do festival. Ele tocou pela primeira vez em 1991.
Lição de Janis
Mais dedicado à carreira solo desde que lançou o disco “Diga o que você pensa” (2016), Supla já prepara um novo trabalho, previsto para o início de 2018. O disco terá músicas com versões em português e inglês. Ele costuma fazer traduções para shows fora do Brasil.
Compondo de forma frenética – os temas vão do comportamento social na internet ao prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) -, o cantor tem um objetivo em mente: cultivar a ambição de sentir “orgulho de si mesmo”, uma lição que aprendeu com Janis Joplin. Entenda na entrevista abaixo.
G1 – Você é quase um especialista em Rock in Rio, tocou pela primeira vez em 1991. Algo mudou de lá para cá?
Supla – Acho que não. A ideia do festival, desde o começo, sempre foi misturar vários tipos de música. O público vai para ver as coisas que estão afim de assistir. Muita coisa mudou no mundo de lá para cá, a internet mudou as coisas – para o bem ou para o mal, sei lá. Mas acho que o festival continua o mesmo.
G1 – Esse ano você vai tocar com a Doctor Pheabes. Já se encontraram? Como estão sendo as conversas?
Supla – Sim, já estamos com algumas músicas ensaiadas. Eles são uma banda de hard rock e [o show] vai ser uma celebração do rock mesmo. Fiquei muito contente. Esse ano eu não ia tocar. Em 2015 toquei com meu irmão [João Suplicy, com o Brothers of Brazil] e chamamos o cara do Sex Pistols [o inglês Glen Matlock, que foi baixista da banda]. Esse ano não vai ter esse peso, essa coisa de fazer cerimônia para o convidado, está mais relax. É bom dar um alívio. Eu sou super preocupado, quero que as pessoas se sintam bem.
G1 – Conhece a história da Doctor Pheabes? Publicamos no G1 uma reportagem sobre os integrantes: dois deles são fundadores da Prevent Senior, empresa que patrocina festivais nos quais a banda toca. O que acha disso?
Supla – O que eu posso falar sobre isso? Das vezes que eles tocaram em festivais, só vi uma e foram bem. Me pareceu tudo bem. Acho que é uma coisa que cabe a eles. Para mim, um convite para tocar é sempre uma honra. Esse ano eu já toquei em tudo quanto é lugar de São Paulo, todos os festivais de metal eu tô tocando. Para mim, tocar é sempre uma oportunidade. Então tá de boa.
G1 – Você já falou em entrevistas que chegou a pensar em seguir o caminho da política, como seus pais, mas desistiu. Por quê?
Supla – Eu já faço política na minha música. Já falo coisas para a galera pensar. E também para se divertir. Política não é só no Congresso, é assim que eu vejo. Já faço o meu trabalho.
Vou te falar uma coisa: dia desses eu estava vendo um documentário sobre a Janis Joplin e achei tão legal o que ela falou sobre ambição… Quando a gente pensa em ambição, sempre relaciona a algo negativo, a gente que passa por cima das pessoas. A Janis fala que ambição é quando você quer ter orgulho de si mesmo, não por querer mais dinheiro ou fama.
“Eu tenho essa ambição de querer ter orgulho de mim mesmo. A fama e a grana são consequências.”
Eu sou muito agradecido por estar com a minha idade, vivendo do que amo, e por poder estar tocando na América, tocar no Rock in Rio daqui a pouco… Não paro de compor, graças a Deus. As melodias vão entrando e as ideias também.
G1 – Como você vê o rock no Brasil? Há esperança ou só tem espaço pro sertanejo?
Supla – Para falar a verdade, não estou preocupado. Sinceramente, sertanejo, funk, qualquer música… Eu faço o meu trabalho e amo o que eu faço. Coisas bacanas acontecem comigo porque eu batalho pra caralho. Estou falando um monte, fazendo um som de qualidade, falando de coisa séria, coisa divertida… Estou dando o recado ainda. Não compete a mim ficar falando sobre o rock.
G1 – Mas você já criticou o sertanejo… Se te convidassem para uma parceria, aceitaria?
Supla – Não teria problema em uma participação. Posso cantar com qualquer estilo, super de boa. Eu colocaria a minha atitude na coisa. Mas você nunca vai me ver fazendo um som sertanejo, só porque está vendendo mais. Onde mais se lucra mesmo é na TV. Atores de TV ganham muito mais que músicos. Você acha que a Anitta ganha o mesmo que o Faustão?
“Poderia fazer programas de TV para ganhar dinheiro. Já tive várias oportunidades.”
Não é um dinheiro fácil também. As pessoas têm que ter talento para estar lá, não estou desmerecendo ninguém. Mas é um fato. Sempre fiz o que eu estava afim de fazer.
G1 – Ouve algo do rock atual brasileiro?
Supla – Agora não, apesar de ter certeza de que tem gente fazendo coisas boas.
G1 – Você é super popular na internet, mas quase não se expõe nas redes sociais. E já até falou sobre isso em suas músicas. O que acha da exibição virtual? Curte virar meme?
Supla – Prefiro me resguardar mesmo. Posto mais coisas de trabalho, mas acho legais [os memes]. Acho que [a superexposição] tira um pouco do mistério do artista. Não fico mostrando o carro que comprei, não preciso disso. Mas cada um faz o que quer. Eu tô bem de boa. Procuro focar no meu trabalho e me manter falando coisas importantes.
G1 – Você está no meio de uma série de apresentações nos Estados Unidos. Como são seus shows fora do Brasil? Faz mudanças no repertório?
Supla – Tem vários tipos de shows. O show no festival [Supla tocou no It’s Not Dead Fest, na Califórnia], por exemplo, terá meia hora. Vou tocar em inglês e só uma música em português, “Garota de Berlim”.
“A maioria das músicas eu transformo do português para o inglês. Meu próximo álbum vai ter as mesmas músicas em português e inglês. É um trabalho dobrado.”
G1 – E o público no exterior, como é? Quem você vê nas plateias?
Supla – Tem mais americanos. No fim de semana passado, estive em Nova York e tinha uma galera que conhecia minhas músicas, as músicas do Brothers [of Brazil]. Não fazia ideia disso, achei muito louco. Antes de formar o Brothers, toquei muito em Nova York. Hoje consigo tocar em festivais [americanos] por causa dos contatos que fiz. Agora voltando para os Estados Unidos para tocar, praticamente começando de novo. Então pra mim é tudo novo, de certa forma.
Fonte: G1