Emicida e Fióti falam sobre sucesso do Laboratório Fantasma
Difícil não se reportar ao Laboratório Fantasma quando se quer um caso de sucesso de economia criativa na música. Os irmãos Leandro e Evandro Roque de Oliveira, nomes do rapper Emicida e do produtor Fióti, começaram fazendo tudo sozinhos, juntando o próprio dinheiro e produzindo em casa. Hoje, a frente do Laboratório Fantasma, eles têm a própria gravadora, agência de shows e editora. Tudo isso sendo construído com dinheiro ganho com hip hop.
“Quando a gente surgiu, nesse período de 2009, não tinha nenhuma empresa que fizesse o que a gente faz no meio do hip hop, ou do funk, ou da música de periferia, naquele momento. Não tivemos um espelho nacional”, lembrou Evandro Fióti, durante conferência realizada pela dupla, neste sábado (6), no Porto Musical, evento voltado para profissionais da área, que acontece em Recife, Pernambuco.
É completamente diferente de uma artista de MPB, de choro, do forró de reggae. E, por ser um gênero que naquela época (em 2009) não movimentava uma quantia tão grande de grana, comparada a outros segmentos, você tinha poucas produtoras que fazem isso, poucas gravadoras confiam em lançar esse tipo de artista. É por isso que a gente vai arregaçando as mangas e fazendo.” “Um caminho que foi traçado por nós e que pode inspirar muita gente”, complementa Emicida.
Internet e distribuição digital gratuita da música
As músicas do Emicida estão disponíveis de graça na internet. “A gente tem uma geração agora que conheceu seu artista favorito através de um link”, afirmou o rapper. Fióti lembra que na periferia o poder de consumo aumentou bastante, mas ainda não o suficiente para que as pessoas paguem por arquivos de streaming. “Não adianta colocar seus disco nas lojas digitais, se seu público não estiver 100% consumindo dentro delas”, disse.
“O download gratuíto foi muito importante pra gente. Nosso público reclamava nos comentários porque não conseguia compra em dólar”, complementa o produtor.
Para os músicos independentes que ainda estão em busca do sucesso, Emicida avisa que tem de ter curiosidade e teimosia, cuidar da parte chata para aprender a fazer.
Confira:
Emicida, Fióti, Guilherme Arantes e as ideias sobre o Brasil
Na plateia do Porto Musical, o músico Guilherme Arantes pergunou à dupla sobre suas impressões a respeito do país. Fióti falou dos avanços nos últimos anos e diz que o país ainda tem muito “pano pra manga” e que ainda precisa superar coisas como o racismo.
Emicida acredita que temos uma “lição de casa”, que é olhar o país sem divisões e começar a enxergá-lo como nação. “Dentro dessa reflexão tem um que reverbera no nosso dia a dia que é: o Brasil já foi no máximo de onde ele pode ir enquanto sociedade segregrada” disse o rapper ao falar do racismo.
“O que aconteceu em São Paulo há dois anos, que foi o fenômeno do rolezinho, é a melhor exemplo de como a gente vive num barril de pólvora. A televisão fala pros moleques: compre, compre, compre, tenha, tenha, tenha. Ninguém fala que você tem que ser, fala o que você que ter. Aí, quando os moleques vão em 200 para o shopping, a polícia vai para cima. Esse tipo de realidade que a gente vive”.
http://www.ebc.com.br/cultura/2015/02/emicida-e-fioti-falam-sobre-sucesso-do-laboratorio-fantasma
Fonte: EBC