Musical repassa a trajetória de Ney Matogrosso em 24 canções
Em espetáculo que estreia terça-feira, Soraya Ravenle e Marcos Sacramento interpretam músicas gravadas pelo cantor, que aparece em imagens projetadas. Ao G1, Ney disse que não interferiu na concepção do musical ou na seleção do repertório.
Uma trajetória contada em 24 canções: a tarefa, que pode parecer difícil, se torna ainda mais dura se a história a ser narrada é a de Ney Matogrosso. Dono de uma das mais luminosas carreiras da música brasileira, o artista é tema do musical “Puro Ney”, que estreia terça-feira (22), no Teatro dos Quatro.
Concebido por Cinthya Graber, amiga de longa data de Ney, o espetáculo perpassa as mais de quatro décadas de carreira do cantor, destacando nas canções as marcas que desde sempre o consagraram, como a liberdade, a transgressão e a honestidade. Mas, para o próprio Ney Matogrosso, é “muito difícil” se imaginar recebendo homenagens.
“Não me considero uma pessoa ‘homenageável’, então essas ideias até me assustam um pouco. Foi assim com o Zé [Maurício Machline] também”, diz o artista, abusando da modéstia e citando a outra homenagem que recebeu este ano, no Prêmio da Música Brasileira.
Em “Puro Ney”, o homenageado dará o ar da graça de maneira indireta – Ney aparecerá em imagens projetadas no fundo do palco, enquanto Marcos Sacramento e Soraya Ravenle, acompanhados por uma banda, interpretam as músicas. Segundo Luís Filipe de Lima, diretor e roteirista do espetáculo, o principal critério foi o de selecionar canções em que Ney tenha deixado sua assinatura como intérprete.
“Todas as músicas apresentadas foram lançadas por Ney, ou receberam dele a versão definitiva. Por isso não incluímos no roteiro nenhuma das músicas do Cartola, que ele gravou lindamente, mas que não eram inéditas para o públco, por exemplo”, explica Lima, que tem ainda uma identificação pessoal com o artista homenageado: “‘O Vira’, lançada pelo Secos e Molhados, foi a primeira música que tirei no violão, aos 7 anos de idade”.
Ney conta que não interferiu na concepção do espetáculo, mas fez questão de que um de seus maiores sucessos, “Rosa de Hiroshima”, fizesse parte do roteiro – “Infelizmente, ela é mais atual hoje do que quando foi gravada, com esses loucos se ameaçando com bombas atômicas e botando em risco o mundo todo” – e de que outro, “Telma, eu não sou gay”, não fosse incluída. Ele explica:
“Eu gravei ‘Telma’ como uma grande brincadeira, para um disco do João Penca & Seus Miquinhos Amestrados que era só de paródias. Só que fez muito sucesso e a gravadora forçou a barra para que a música fosse incluída no meu disco. Era isso ou o disco dos Miquinhos seria recolhido das lojas. Foi a única vez que cedi a uma chantagem, mas depois risquei a música do meu repertório”.
Cantores de sólidas carreiras, com participações em diversos musicais, Soraya Ravenle e Marcos Sacramento contaram ao G1 que aceitaram o convite para “Puro Ney” sem pestanejar. “Quando vi o Ney com o Secos e Molhados, no início dos anos 70, a identificação foi imediata. Estou nervoso por tentar reler uma obra de tanta qualidade como a dele”, diz Marcos.
“Nas gravações das imagens que serão projetadas durante o espetáculo, o Ney disse uma coisa que eu trouxe para o trabalho: ‘Não se contentem comigo: sejam!’. Acho que isso é a principal marca dele, a de ser ele mesmo, sempre, e de ter se tornado um dos maiores artistas do Brasil, derrubando várias barreiras no caminho”, afirma Soraya.
“Puro Ney”
- Teatro dos Quatro – Shopping da Gávea (Rua Marquês de São Vicente 52, Gávea; telefone 2239-1095)
- Sessões: terças, quartas e quintas-feiras, às 20h30
- Ingressos: R$ 70, na bilheteria do teatro ou pela internet.
- Indicação etária: 12 anos
Fonte: G1 – Música