19/05/2014
Por: abemusica

Músico dá aulas em casa e muda vida de crianças em periferia de Cubatão

Ele criou o projeto ‘Tocando em Frente’, no Conjunto Rubens Lara.
Professores buscam apoio do Ministério da Cultura.

O apartamento de um músico se transformou em uma sala de aula, repleta de instrumentos e crianças. Por meio de letras e melodias, ele revolucionou a vida de meninos e meninas do Conjunto Habitacional Rubens Lara, em Cubatão (SP). As crianças saíram da ociosidade das ruas, aprenderam a tocar instrumentos e ganharam conhecimento. Algumas mudaram suas rotinas, descobriram o mundo da cultura, tiveram mais motivos para sorrir e começaram a ter novos sonhos.

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Anderson Fabiano Souza de Oliveira mudou para o residencial logo após a construção dos primeiros prédios. Quando chegou ao local, percebeu que havia poucas opções de lazer para as crianças do bairro. Ele conta que a diversão dos meninos era jogar futebol nos corredores do condomínio. “As crianças me viam tocando, ouviam o som e um dia me pediram para ensinar música para elas. Eu vi ali uma oportunidade de lhes mostrar uma outra atividade”, conta o músico. Ele abriu as portas de seu apartamento para ensinar três crianças a tocar instrumentos musicais. “Logo outras se sentiram atraídas, chegou a ter 15 alunos na minha sala, aulas teóricas e práticas”, explica.

A procura pelas aulas foi aumentando, passaram a ser realizadas em um salão do condomínio e, depois, na Escola Municipal Maria do Rosário, construída no bairro. “Conversando com os pais, fizemos uma associação e criamos o projeto ‘Tocando em Frente’ logo em seguida”, conta Anderson. A escolha do nome tem relação com a vida das famílias do Conjunto Rubens Lara. Elas vieram dos bairros Cota 200, Cota 400 e Água Fria, por meio do processo de recuperação socioambiental da Serra do Mar. “As famílias foram trazidas para cá, foi uma maneira de tocar a vida em frente. O projeto veio para dar acesso à educação e à cultura”, conta.
O músico deixou um dos empregos que tinha para se dedicar ao projeto. Ele comprou instrumentos e conseguiu alguns por meio de doações. As crianças e adolescentes tiveram a oportunidade de aprender a tocar violão, violino e flautas. Três músicos passaram a integrar a equipe de professores, dando aulas para cerca de 70 alunos, com idade acima de seis anos.

 

Jovens músicos
Aos poucos, a influência da música na vida das crianças foi notória. Elas começaram a se reunir em vários pontos do condomínio para tocar canções, e esse passou a ser o principal hobby de meninos e meninas. “Toco na minha casa, no condomínio, fico tocando com as meninas. Eu sempre ficava em casa sozinha, assistindo programas chatos na TV. Agora tem alguma coisa para ocupar meu tempo”, diz a estudante Wygina Tobias, de 11 anos, que toca flauta e violão.

Além disso, muitos passaram por uma transformação pessoal. David Franklin Ribeiro, de 12 de anos, foi um dos primeiros alunos do projeto. O professor conta que ele chorava muito por não conseguir tocar uma música ou por alguma ofensa de um colega. Hoje, a realidade é outra. David toca flauta e violino. “Ele se tornou mais forte psicologicamente, mais participativo, parou de chorar. Vimos nosso objetivo alcançado. O projeto visa despertar na pessoa a consciência de que ela é um fator preponderante para a conquista dos maiores objetivos dela”, diz o professor. Já Mikaelly Oliveira, de 10 anos, começou a tocar violão há um ano. Ela passou a frequentar as aulas depois de ver um anúncio na escola, realizando um desejo seu e de sua família. “Acho muito legal, gosto dos professores e do que eu faço. Sempre foi meu sonho tocar violão. Meu avô tocava e o sonho dele era que um dos netos também tocasse. Agora, eu e meu primo tocamos”, comemora. Ela ainda quer trilhar uma carreira de sucesso no mundo da música. “Quero ser uma grande musicista no futuro, saber tocar tudo muito bem”, diz Mikaelly.

música entrou também na vida do menino Guilherme Ramos de Sousa, de 11 anos. Os professores se depararam com um talento e ele descobriu que pode ir muito além do que imaginava. “Ele se escondia atrás do pai, não falava com ninguém. Hoje, a gente fica de boca aberta com ele conversando. É uma coisa que a música faz, consegue transformar”, afirma o professor. Atualmente, Guilherme toca flauta doce, soprano, tenor, baixo e violino. O próprio menino conta como era antes e depois da música. “Na minha escola, ninguém falava comigo. Depois do projeto, tenho mais amigos. Eu era tímido, quando comecei a tocar flauta, com o Anderson me dando as aulas, fui perdendo a timidez. A música ajuda. Me sinto mais leve”, diz o menino. Guilherme já fez apresentações em Guarujá e São Paulo. Elogiado por sua concentração e facilidade de tocar diversos instrumentos, ele é considerado um menino prodígio e um fruto do projeto. “O Guilherme é um talento fora do comum. Ele toca solo com habilidade de músico profissional”, comemora o professor. Mas ainda há muito o que aprender. Guilherme quer se tornar um músico profissional. “Quero tocar flauta em uma grande orquestra”, fala.

Apoio Os professores são voluntários, não ganham pelas aulas e acabam tirando dinheiro do próprio bolso para manter o trabalho. O projeto foi aprovado pelo Ministério da Cultura, mas é preciso um valor mínimo para que seja patrocinado pelo Governo Federal. “São necessários R$ 295 mil para desenvolver o projeto pelo Ministério da Cultura. Já conseguimos R$ 63 mil. Precisamos chegar a R$ 170 mil, cerca de 60% desse valor. Temos que conseguir até 1º de julho”, explica o professor.

Quando Anderson ouve os depoimentos dos alunos, percebe que sua missão de transmitir cultura e conhecimento está sendo cumprida com sucesso. Ele quer continuar a levar canções de Tom Jobim, Mozart, Bethoven e Strauss para crianças e adolescentes que antes desconheciam esses compositores. Enquanto o apoio financeiro não chega, os professores fazem o que podem para não deixar de cultivar cultura e educação. “A gente faz porque gosta, porque ama mesmo”, conclui.

Fonte:G1

 





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