12/11/2014
Por: marketing

Nem Secos é música boa contra a ostentação

Nem Secos: eles são autênticos, bons músicos e nada idiotas; na foto, da esq. p/ dir, frente: Carlos Linhares, Leandro Said, Deh Mussulini e Luã Linhares; atrás, tb da esq. p/ dir.: Alexandre Mestiço, Sune Salminen e Leonardo Clementine – Foto: Ciléia Botelho

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Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Qualidade musical aliada a um discurso potente e libertário. Num mundo musical submerso até o último fio da cabeça no mercado voraz – que o diga a ostentação dominante – ver uma banda que propõe justamente o contrário é algo que ainda faz a gente querer acreditar que o interessante um dia pode (voltar a) ser normal (e não marginal). Porque, como eles cantam em A Manha e o Paia, “O que vai ser do mundo? O mundo se vendeu…”

A música deles é ótima. As letras também. Quem foi ao último show que fizeram, na manhã de sol do último domingo (9), no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, sabe muito bem: a banda Nem Secos é boa demais da conta, sô. É uma das melhores coisas que a atual cena musical mineira produziu.

Quem duvidar que ouça o disco Dançando a Vida, que deve ser prensado ano que vem, assim que o grupo conseguir a grana, porque o mercado atual anda burro demais.

Alexandre Mestiço (com sua voz soul e presença intensa no palco), Carlos Linhares (espécie de Tom Zé mineiro e mentor do grupo), Deh Mussulini (segura nos vocais e única mulher da banda, talvez por isso ainda tímida no palco, mas que tem tudo para desabrochar cada vez mais), Delano Soares (em participação especial na percussão), Leandro Said (virtuoso e propositivo nos instrumentos de sopro) , Leonardo Clementine (guitarrista; mais na dele, mas fundamental), Luã Linhares (pianista talentoso e dono de uma voz jovem) e Sune Salminen (baterista cheio de ginga) são uma mistura dos Mutantes com Novos Baianos, mas com (muita) pegada própria.

O nome talvez os remeta, excessivamente e erroneamente, a uma espécie de cover da banda Secos & Molhados, ícone dos anos 1970. Mas, não são. Só foram, lá no comecinho da história da banda, 11 anos atrás.

Hoje, digamos que o espírito da banda que lançou Ney Matogrosso está presente de alguma forma, mas a Nem Secos consegue transformar aquele discurso de 40 anos atrás em algo que dialoga freneticamente com as relações líquidas do contemporâneo. E dão uma sacudida na pasmaceira vigente.

É preciso acentuar a exuberância musical do pianista Luã Linhares, filho do vocalista e baixista Carlos Linhares. Luã é um músico que faz a gente se lembrar do roqueiro argentino Charly García na juventude com seu excesso de potência.

Os Nem Secos são favor da paz, do amor (livre), da arte, do homem, da inteligência, da música, do talento. E contra toda a idiotização de tudo, o que fazem muito bem. Para eles, bem melhor que ostentar, é simplesmente ser. E não ter discurso pronto, vendido. Como cantam, com toda a ironia do mundo, em A Seita que Não Aceita: “Ai, ai, ai, ai, ai, ai, mas eu vou fundar uma nova seita que não aceita ninguém com mais uma ideia pronta”.

Este é o recado debochado, inteligente e potente do Nem Secos no palco, na arte, na vida.

E tal discurso está presente até na harmonia deles no palco, onde fazem transitar a importância entre todos os seus integrantes (vestido com roupas coloridas e de farta inspiração afrobrasileira) durante o show. Mais do que o jogo de egos comuns nas bandas mundo afora, mostram que o coletivo pode funcionar. Nem que seja em sua música mergulhada (ainda bem) na utopia.

Fonte: R7

 





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