Reconstruir lixo e transformá-lo numa orquestra que pode ser “ouvista”
“Preparem-se para sair daqui mais confusos do que o que entraram”, avisa João Ricardo Oliveira, à entrada de uma sala da Escola Secundária de Felgueiras. É o maestro da Orquestra do Lixo e toca aspirador. Na sala está também o Gonçalo, de 6 anos, que toca cadeira-pionés, a Clara, de 8, que toca livros, a Leonor, de 10, que toca baú de três cordas e outras nove crianças e jovens, com instrumentos igualmente peculiares.
São uma orquestra diferente, que nasceu no início de Julho e junta alunos de três escolas de música — o Conservatório de Música de Felgueiras, a Art Music e a Escola das Artes Macpiremo. Os músicos trocaram os pianos, as flautas e os violinos, por cadeiras, baldes, baús, tubos, berços ou casacos. De lado ficaram também as semínimas e as colcheias, porque para participar no “Parafuso perdido no aspirador”, não é preciso ler figuras musicais. O importante é saber “ouver” e compreender três processos: parabólica, macrobiótica e polaroid. Parece confuso?
O “Parafuso perdido no aspirador” é um workshop orientado por João Ricardo Oliveira, escultor sonoro natural de Viana do Castelo, que reúne objectos encontrados no lixo e os transforma em instrumentos musicais. Chegou a Felgueiras no início do mês através do programa Praça das Artes, promovido pela Câmara Municipal, e fica na cidade até 4 de Agosto, dia em que a Orquestra vai tocar lixo para quem quiser ver.
Para já, estão em fase de construção e ensaios, numa sala que está repleta de caixotes empilhados e objectos partidos. No centro, os instrumentos estão dispostos como os de uma orquestra convencional. Há máquinas de escrever, baús com cordas, caixilharias de janelas transformadas em harpas: soluções improvisadas, construídas a partir do lixo que João Ricardo trouxe.
O “Parafuso perdido no aspirador” é isso mesmo, “a procura de soluções por todos”, explica o mentor. Para isso, primeiro há que “ouver” — ouvir e ver — e, depois, partir para a “construção e desconstrução do objecto em busca das sonoridades.” O workshop faz parte de um projecto maior, o Lixoluxopóetico — “com acento na letra ‘o’ porque eu toco aspirador”, explica João Ricardo.