Vintage Trouble defende som retrô no Lolla: ‘Nos anos 60 rock era mais puro’
Baterista Richard Danielson exalta época ‘sem computadores’ na música.
‘Tinha que aprender e tocar de verdade’, diz músico que vem ao Lollapalooza.
Com “vintage” no nome e terninhos retrô no corpo, é difícil esperar algo diferente. O Vintage Trouble leva guitarras de rock sessentista e balanço à James Brown ao primeiro dia do Lollapalooza 2016 em São Paulo, 12 de março.
A banda da Califórnia foi formada em 2010, mas a referência é antiga. “[Nos anos 60] se alguém errasse, toda a banda tinha que voltar. Isso cria um senso de sinergia entre os músicos. E faz da música uma coisa entorpecente, que momentos mágicos aconteçam”, diz o baterista Richard Danielson.
Eles fizeram um show elogiado no Rock in Rio 2013. Da viagem, Richard levou referências de samba que incluiu discretamente no som da banda. De turnês mais longas, para abrir shows de ícones como The Who e AC/DC, levou outra lição: “Eles têm voz própria e acreditam no que são. É isso que queremos.”
Richard Danielson – Eu sou muito influenciado por ritmos brasileiros. A música “Lo and behold”, por exemplo, tem muita coisa de samba. E eu nem falei com a banda que eu queria tocar samba. Só coloquei o ritmo no meio das partes de rock. Ficou diferente e funcionou bem.
G1 – Ty Taylor tem uma performance muito enérgica. Como é acompanhar do fundo do palco?
Richard Danielson – Ty e eu somos muito conectados. Eu acho que tenho o melhor lugar da casa. Vejo de um lugar privilegiado. E também o ajudo, tem uma energia que vai e volta. É bom para a banda ter um cara quente como ele.
G1 – Há músicos que te inspiraram nessa conexão entre vocalista e baterista?
Richard Danielson – É uma relação que muita gente não comenta mesmo, vocal e baterista. Ela é muito importante. Se você dissecar qualquer hit, a base que sobra é a melodia vocal e o ritmo da bateria. Há tantos bons exemplos. Olhe para James Brown. Ele era muito exigente e interagia com muita energia com o baterista – ou até os bateristas, às vezes eram dois.
G1 – Para você, porque há tantas bandas retrô hoje? E o que havia de tão especial nos anos 60?
Richard Danielson – Foi especial porque era puro. Você pode levar isso até os anos 70 e também buscar nos 50. Havia uma pureza em ser músico, em ter que tocar os instrumentos. Não podia ser um computador fazendo ‘loops’. Tinha que tocar do início ao fim.
Muitas bandas tocavam ao vivo no estúdio, coisa que tentamos fazer. Se alguém errasse, toda a banda tinha que voltar. Isso cria um senso de sinergia entre os músicos. E faz da música uma coisa entorpecente, que momentos mágicos aconteçam
Então isso nos atrai de volta para os anos 60. Você tinha que aprender o instrumento e tocar de verdade. Mas isso nunca vai sumir. Guitarras e baterias continuam sendo vendidas em quantidades recorde. Ainda existem crianças querendo tocar. Não serão coisas do passado, mesmo com computadores.
G1 – Vocês já acompanharam bandas como AC/DC e The Who em turnê. O que aprenderam com eles?
Richard Danielson – AC/DC e The Who têm voz própria, e não têm medo de expressá-la. Eles acreditam no que são. Não seguiam nada, eram líderes. É isso queremos, sempre encontrar a nossa voz e estar na frente.
Outra coisa importante que vimos foi como eles tratam as pessoas. Eles têm muito respeito e fazem qualquer pessoa se sentir incluída. É importante músicos aprenderem isso. Agora temos bandas abrindo para a gente e tentamos ser companheiros e espalhar essa atitude.
Fonte: G1, em São Paulo